Quantas vezes já ouvimos a expressão "farinha do mesmo saco"? Inúmeras, e invariavelmente com um tom pejorativo, como se só coisa ruim fizesse parte do mesmo pacote. Talvez outras expressões mais polidas, como "creme de la creme" consigam dar glamour a algo que é tão simples de explicar, mas, pelo sim e pelo não, fico com a primeira, que traduz exatamente o que penso sobre uma similaridade única que nos faz ouvir um chamado e entender que pertencemos àquilo, que é ali que está nosso nicho. Hoje vou tentar explicar porque não sou bancário, metalúrgico ou enfermeiro. Assisti " O Artista " e me inspirei a escrever sobre essa farinha bendita que leva nós, operários do entretenimento, ao forno.
Confesso que por alguma razão obscura (preto e branco?) me recusei a assistir esse filme quando estrelou e muito menos depois que ganhou 5 Oscars. Como eu disse, razão obscura... pode ter sido por medo de me impactar, como sabia que ia acontecer, quem sabe? Bom, fato é que hoje, em pleno feriadão, resolvi acessar o bendito menu de canais com filmes pagos e assistir, no silêncio do meu lar, a obra que conta a história de George Valentin, uma estrela do cinema mudo que vê seu mundo desabar com a chegada dos filmes falados. Se vocês derem um google vão saber bem mais sobre o filme do que qualquer coisa que eu me atreva a dizer aqui. Portanto, vou me concentrar egoisticamente na minha dor pós parto, digo, pós filme.
Quando vi o auge, a fama, a decadência e a redenção final , nada me falou mais profundamente do que o amor do personagem ao voltar à ribalta. Não é pelo dinheiro , nem pela fama, tenho certeza. Esta farinha do mesmo saco que me refiro hoje, é esta. Este recheio ou esta massa de que todos nós, que resolvemos dizer "sim" ao nosso chamado, somos feitos. Há quem defina o artista em si , como um ser tão carregado de outras pessoas dentro de um só corpo, que precisa de muitas vidas, para continuar vivo. Vidas que leva as telas, ao teatro, à composições, à música... E há quem diga que somos todos tão especialmente carentes, que precisamos de que nos ouçam, nos observem e se possível, nos gostem, nos amem. Vá saber...
Muitos de nós passam pelo funil e chegam ao mundo dourado do dinheiro e reconhecimento merecidos. A grande maioria, se reconhece fazendo pobres e infelizes sorrirem, inocentes chorarem, crianças sonharem. Somos mesmo farinha do mesmo saco. Aguentamos privações, desafiamos a o tempo, a criação que nos foi dada, a insegurança que nos é apresentada. Mas somos felizes quando estamos na função. Somos menos tímidos quando a câmera nos mira, mais fortes quando a multidão nos prescruta. As vezes temos trabalhos, as vezes não. As vezes agradamos, as vezes não. As vezes vem o aplauso, às vezes a vaia. E, uma hora, a luz apaga de vez. Dá pra entender por que a Hebe quis ir até o ultimo suspiro no palco? Porque a Xuxa não aposentou ou o Roberto Carlos nunca para de cantar as mesmas músicas? Em um momento, por mais diferentes que todos estes citados sejam, são iguais. Somos iguais. Farinha do mesmo - e abençoado, saco.
Luz, Câmera, Ação! O show tem que contiunar.
obrigada pela dica Wesley!! quero ver o filme! bj
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