quarta-feira, 10 de outubro de 2012

QUANDO CAI A ANSIEDADE...

Não sei se meu amor pela hoje chamada "melhor idade" começou com a leitura dos romances ingleses, especialmente os detetives heróis de Agatha Christie, Hercule Poirot e  Miss Marple ou quando conheci uma senhora chamada Dona Dóvis.   Dovis Hindeness era uma senhora de aproximadamente sessenta anos, brasileira, mas com todo o tipo de personagens europeus. Havia residido nos Estados Unidos, Europa, ficara viúva e casara anos mais tarde, já depois dos 50 anos, com um capitão norueguês.   Tudo em Dona Dóvis era tão internacional que me fascinava.  A conheci na Igreja que frequentávamos. Eu, devia ter uns 15 ou 16 anos e sonhava com o mundo la fora... Dona Dóvis virou minha amiga de infância. Me convidava para provar as receitas mais "estrangeiras" que alguém podia imaginar, como pancakes with syrup, waffles, brownies  e me ensinou a tomar chá, como os ingleses.  Em sua pequena sala, abarrotada de fotos preto e branco (ela com aqueles óculos "gatinha", bem anos 50), sempre me contava dos lugares lindos que eu deveria visitar ou dos livros fantásticos que eu deveria ler. Com ela, comecei a ler os romances ingleses no original, em inglês! Nossos papos, começaram a ser em inglês.  Eu contava os dias para estes nossos encontros.  Assim como nos livros, um dia o "the end" chegou e dona Dóvis sumiu. Nunca mais ouvi falar dela, nem apelando para o google...


Claro, de repente dona Dóvis tinha mesmo que desaparecer assim, de maneira sobrenatural. Não combinava nada diferente disso... Mas ficou a lição. No entanto, a ansiedade da juventude faz a gente esquecer estas coisas tão rapidamente e só voltar a elas quando nos aproximamos perigosamente do momento de vida destes mestres.  Digo "perigosamente" porque podemos olhá-lo com arrependimento de não ter saboreado sua presença, e isso é sempre um ponto para lamentação, acreditem. Nada pior do que   o que, negligentemente, não foi feito . Será por isso que Agatha Christie dizia que nunca deveríamos voltar aos lugares onde fomos felizes?  Como voltar à mesa de chá de dona Dóvis tem sido uma pergunta que me faço frequentemente. Não há como voltar no tempo, mas o tempo faz pontes. Chegar a Dona Dóvis hoje, me é muito mais fácil, porque a ansiedade foi embora. 
Hoje me emociono ao ver um filme como "Hotel Marigold" e não tenho medo do futuro e suas promessas, que enxergamos como rugas, saúde precária ou beleza poente. O que vivi até aqui é tão mais poderoso, que me sinto pleno, forte mesmo!    A ansiedade que movimentava meus músculos e meus neurônios para comprar uma casa, um carro, fazer uma carreira profissional brilhante já se foi... Essa venda que a ambição dos dias de luta nos coloca, agora caiu.    Amadurecer tomou outro significado.  Fiquei até mais bonito, acreditam?   Gente, eu consigo agora, contemplar! Essa palavra era tão...antiquada, back then.
Existe um charme tão fascinante em pessoas bem resolvidas, bem vividas, bem beijadas, bem auto-amadas, que atrai os inseguros, os doces, os dóceis, os ávidos por vida, os ávidos por exemplos...  Ah Roberto, " se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi" também entra nessa conta.  A soma é maior do que a subtração, a estrada é maior do que a linha de chegada e certamente infinitamente mais cheia de prazer, sabor e aromas do que o ponto de partida.   O que vamos ter hoje, Dona Dóvis, chocolate chip cookies? O que vai me recomendar para a leitura do fim de semana, Charles Dickens ou Jane Austem?

3 comentários:

  1. Dear Wesley,Muitas vezes me lembrei de voçê-o que será que aconteceu com o Wesley, tão inteligente,tão sonhador,tão êle mesmo, não, eu não desapareci.De Bergen vim para Campinas, com meu marido doente, e já falecido.Hoje,com 90 anos continue bem,muito obrigado pelo o que voçê escreveu.Saudades,Dovis

    ResponderExcluir
  2. Dear Wesley,Muitas vezes me lembrei de voçê-o que será que aconteceu com o Wesley, tão inteligente,tão sonhador,tão êle mesmo, não, eu não desapareci.De Bergen vim para Campinas, com meu marido doente, e já falecido.Hoje,com 90 anos continue bem,muito obrigado pelo o que voçê escreveu.Saudades,Dovis

    ResponderExcluir
  3. Conheço Dona Dovis em Campinas...está firme no Senhor continua distinta e elegante!
    Samila Sathler - Campinas

    ResponderExcluir